Só esta semana, ouvi algo mais ou menos assim duas vezes:
“Alex, nós queremos que as pessoas da nossa empresa entendam que elas estão aprendendo o tempo todo, em todo lugar”.
Eu entendo de onde vem isso.
Se a escolarização tradicional nos ensinou que lugar de aprender é só na sala de aula, agora queremos que esses muros sejam quebrados.
E se um dia acreditamos que o tempo de aprender era somente o tempo protocolar da instrução formal – equivale dizer, do despejamento de conteúdo sobre nossas cabeças –, agora queremos que todo segundo conte como tempo de aprendizado.
Compartilho da intenção de desconstruir as relações de tempo e espaço autoritárias da escola. De fato, elas não servem à vida.
Mas daí para instituir que precisamos estar aprendendo em todos os lugares, o tempo todo, não é algo que me cheira bem.
Por dois motivos, um mais filosófico e outro mais prático.
O motivo filosófico é que me parece mais um “tem que”, e todo “tem que” é escolarizado e escolarizante. Existem muitos momentos na vida em que eu não quero ter que aprender.
O motivo mais prático, totalmente conectado com o primeiro, é que aprendizagem, pra mim, é um ato de consciência e intencionalidade.
O aprender é uma postura ativa, uma conduta, uma atitude.
O discurso “estamos aprendendo o tempo todo” pode dificultar a adoção de uma rotina de aprendizado autodirigido e intencional.
“Pra que eu vou separar tempo na minha semana para aprender, selecionar cuidadosamente minhas fontes e me dedicar ao aprofundamento deliberado daquilo que me fascina se… nós já aprendemos o tempo todo, em todo lugar?”
Existem apenas dois pontos em que a narrativa do “estamos aprendendo o tempo todo” faz algum sentido pra mim: hábitos e mentalidade.
Podemos fazer da aprendizagem autodirigida um hábito, no sentido de torná-la algo tão comum e corriqueiro pra nós que ela se converte na nossa postura padrão na hora de aprender algo. E existem ferramentas para isso.
E podemos escolher conscientemente habitar um estado interno de abertura em relação ao novo, ao desconhecido, ao outro, sustentando uma postura de aversão aos automatismos do tipo “concordo-discordo”. Esse é o fator mentalidade.
Aí sim, a partir desses dois aspectos, consigo entender o sentido de uma aprendizagem onipresente.
Mas, em geral, entendo como um mito achar que as pessoas devem estar com a “chavinha” do aprendizado ligada 24 horas por dia.
Um mito até um pouco perigoso.
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