Porque autoavaliação não funciona (e como fazê-la funcionar)
Autoavaliação é uma estratégia comum dentro de espaços educacionais que abrem caminho para a aprendizagem autodirigida.
A pessoa que aprende se percebe na sua evolução. Ela é quem diz como está se saindo, embebida em suas próprias observações sobre si e nas de outras pessoas que convivem com ela, inclusive a educadora ou o educador.
Dentro do paradigma da autodireção, faz todo sentido.
Mas, se a autoavaliação é somente a atribuição de uma nota numérica pela aprendiz ao final de uma prova ou de um trabalho, isso provavelmente vai dar errado.
Em um ambiente altamente heterodirigido e com pessoas cujos hábitos educacionais também são predominantemente heterodirigidos, não é o ato de se autoavaliar que vai salvar o rolê.
Com frequência, a autoavaliação é “para inglês ver” – a pessoa é obrigada a avaliar a si mesma, sabendo que aquela nota será utilizada no fim do dia para recompensá-la ou puni-la, exatamente como ocorre em mecanismos de avaliação tradicionais.
Ainda assim, existem casos que apontam numa outra direção.
No Learning Sprint, método de aprendizagem autodirigida que criei junto com o Conrado Schlochauer, nós começamos a fazer a cada encontro o DMI – Dedicação, Motivação e Insight.
No DMI, as pessoas concedem a si mesmas uma nota de 0 a 10 para três fatores:
Dedicação: o quanto de fato eu executei as ações de aprendizagem que intencionei?
Motivação: o quanto eu me senti engajado e interessado?
Insight: o quanto de descobertas eu fiz?
Essas notas não são usadas para nada. Simplesmente servem como ferramentas de auto-observação e reflexão para quem vive o processo.
E elas são frequentes – em todos os encontros elas estão lá. Isso ajuda a transformar o significado de avaliação na cabeça das pessoas, um DMI por vez.
Outro caso que eu gosto muito são as Palmas do Destino, da Universidade Shure, no Japão.
Ao final de cada ano, as pessoas que estudam nessa universidade fazem uma apresentação para compartilharem seus aprendizados.
O formato é livremente escolhido pela aprendiz, bem como o tema.
Depois de cada apresentação, o público aplaude o que viu. As palmas servem como uma espécie de avaliação, de modo que quem apresenta pode sentir – ou melhor, ouvir – o retorno que o seu compartilhamento teve nas pessoas.
Não acaba aí. Os aplausos servem de informação para que a estudante decida se permanecerá mais um ano estudando na universidade ou se, a partir dali, ela já se considera formada.
Exemplos como o DMI ou as Palmas do Destino nos ensinam que é possível criar diferentes estratégias de autoavaliação que funcionam.
É uma musculatura a ser desenvolvida, se autoavaliar com honestidade. E o design dos ambientes de aprendizagem pode ajudar ou atrapalhar isso.
Obs. 1: hoje (quarta, 14/09) às 19h30 eu vou lançar um livro! Vem? Inscrições gratuitas aqui (é online).
Obs. 2: sobre como pessoas influenciadoras na internet podem ser vítimas de lavagem cerebral. (Muito bom! Obrigado, Paulo Emediato, por compartilhar)