Meu texto de hoje é, ao mesmo tempo, dica de livro, convite e homenagem.
Começando de trás pra frente, ontem, dia 19 de setembro de 2021, foi o dia em que Paulo Freire completaria 100 anos.
Sem cair no culto aos heróis, quero aqui celebrar esse ser humano que fez da aprendizagem sua luta primordial. Que percebeu profundamente as contradições do sistema e cuja vida foi dedicada à justiça social.
Paulo Freire me influenciou muito e eu me lembro com frescor dos dias em que devorei alguns de seus livros pela primeira vez.
Quanto ao convite, é para que, juntos, exercitemos um de seus verbos mais bonitos: “esperançar”. Verbo que precisa especialmente ser conjugado nos tempos de agora, que nos desafiam em tantos níveis.
(Fora Bolsonaro!)
Quero trazer aqui dois parágrafos do livro “Dicionário Paulo Freire”, que inclusive já é a minha dica de livro, para nos inspirar na busca de uma esperança possível e profunda.
Esperança é uma categoria central na obra de Freire, ligada com outros conceitos como utopia, inédito viável ou sonho possível. Já na Pedagogia do Oprimido a esperança se faz presente como condição para o diálogo que, por sua vez, é movido pela esperança. O diálogo em busca do ser mais não pode ocorrer na desesperança. Nas palavras de Freire: “não é, porém, a esperança um cruzar de braços e esperar. Movo-me na esperança enquanto luto e se luto com esperança, espero”.
[…]
Paulo Freire integra a esperança não apenas em seus escritos pedagógicos. Ela faz parte de seu ser no mundo e alimenta a sua busca e as suas lutas, seja entre os camponeses nordestinos, com estudantes universitários, seja na gestão pública. A esperança baseada na ação impede tanto a acomodação pragmática à realidade quanto a fuga para idealismos incapazes de interferir na história.
O livro “Dicionário Paulo Freire”, de Danilo Streck, Euclides Redin e Jaime Zitkoski (orgs.) é uma via de acesso privilegiada aos territórios linguísticos inaugurados por Freire.
Quem já leu Paulo Freire sabe que o homem gostava muito de inventar conceitos – o que é totalmente coerente com a sua visão e a sua prática de aprendizagem.
É por isso que esse livro é, antes de tudo, um testemunhar da capacidade inventiva humana frente aos dilemas e desafios.
Capacidade essa que só é possível para aprendizes autodirigidos. E Paulo Freire definitivamente era um.
Fora, Bolsonaro genocida e ladrão!