Lifelong learning no Estadão + Webinar autodireção e liderança HOJE às 18h
Se o mais novo ser que habita a minha casa deixar (vide foto abaixo), hoje às 18h vou participar de um webinar muito legal da nōvi sobre Autodireção e Liderança: caminhos possíveis.
Aqui vai o link para acompanhar o webinar ao vivo. Lembrando: é hoje às 18h!
Saiu no Estadão alguns dias atrás uma matéria bem legal sobre lifelong learning. O que eu achei curioso – e muito coerente – é a reportagem ter sido veiculada no caderno de bem-estar do jornal. Faz todo sentido pra mim.
Caso você não seja assinante do Estadão, dá pra acessar a matéria na íntegra clicando aqui.
Sem nenhum prejuízo à versão final da matéria, muito bem escrita pela Isabella Abreu, compartilho abaixo a íntegra das minhas respostas a partir da entrevista que ela fez comigo:
Entrevista com Alex Bretas sobre lifelong learning
» Qual a importância de estar sempre aprendendo ao longo da vida?
Muito da narrativa do lifelong learning – ou aprendizagem ao longo de toda a vida – baseia-se na premissa de que, se nós não aprendermos a aprender continuamente, ficaremos desatualizados, obsoletos e seremos “rejeitados” pelo futuro.
De fato, isso pode ocorrer, e a aprendizagem contínua nos ajuda a mudar de maneiras congruentes com as mudanças do mundo.
No entanto, pra mim essa narrativa não explica tudo, pois por trás dela existe uma noção de futuro objetiva, e não intersubjetiva. Tem uma frase do Antoine de Saint-Exupéry que evidencia bem isso: “O futuro não é um lugar para onde estamos indo, e sim um lugar que estamos criando”.
Se queremos participar ativamente da criação dos futuros que desejamos como pessoas, comunidades e sociedade, somente acompanhar as mudanças não basta. É preciso aprender a gerar mudanças.
E isso se faz juntando o lifelong learning com a ideia de aprendizagem autodirigida, que significa assumir as rédeas dos nossos próprios caminhos de desenvolvimento.
A aprendizagem ao longo da vida não deveria se resumir a cursos, treinamentos e leitura passiva de livros. Quando inserimos a autodireção na equação, o processo se torna muito mais autêntico, ativo e criativo. Deixamos de ser apenas “consumidores” de conteúdo e nos tornamos construtores de conhecimento.
» Como despertar a mentalidade do desenvolvimento contínuo?
É preciso alterar a cultura de aprendizagem dos diversos espaços – escolas, universidades, empresas e organizações etc – no sentido da promoção dessa mentalidade.
E isso se faz com a criação de novos contextos que favoreçam o aprendizado autônomo e contínuo. Um exemplo é a formação de comunidades de aprendizagem autodirigida, que podem se estabelecer dentro e fora de qualquer espaço social.
Tenho trabalhado com a ideia de arquiteturas de aprendizagem autodirigida, que são estratégias que qualquer um pode utilizar para criar esse tipo de contexto.
Disseminar o tema na forma de conteúdos, livros, palestras e lives também é importante, e eu também tenho feito isso. Mas, hoje, eu acredito que mudanças sistêmicas acontecem a partir da cultura e da forma como as pessoas se relacionam. Se conseguirmos mudar isso, mudaremos todo o resto.
» Quais são as vantagens da aprendizagem autodirigida com relação ao modelo tradicional de educação?
A principal, ao meu ver, é ser capaz de se encantar com o que se aprende de uma maneira muito mais intensa e frequente do que na educação tradicional.
O modelo convencional, focado em compulsoriedade, controle, punições/recompensas e aulas maçantes tolhe a nossa capacidade de encantamento. Com o tempo, internalizamos que aprender é um “mal necessário” e começamos a associar aprendizado com sala de aula, professores “vomitando” conteúdos e provas traumatizantes.
Quando aprendemos de maneira autodirigida, estamos pessoalmente implicados no processo. Descobrir algo por si mesmo é um dos maiores prazeres humanos. E a vida nos dá infinitas oportunidades para isso, que são desperdiçadas quando permanecemos em aulas que não queremos estar e em cursos que nos sentimos obrigados a fazer.
» E quais são os principais desafios?
Construir autodisciplina e comprometimento com relação ao próprio percurso de aprendizado autodirigido costuma ser um grande desafio. E, muitas vezes, o culpado não é o indivíduo, e sim o modelo de educação tradicional que o acostumou a sempre obedecer ao professor e a não fazer nada por si mesmo.
Além disso, realizar a própria curadoria de conhecimento, ou seja, navegar, selecionar, organizar e extrair valor das múltiplas fontes de informação também costuma ser difícil. Fomos acostumados a receber essa curadoria pronta em aulas, disciplinas e cursos formais, então aprender a fazê-la por conta própria pode ser desafiador.
» Há formas práticas de otimizar o processo de aprendizagem? Como podemos "preparar" o cérebro para aprender?
Nosso cérebro já vem “de fábrica” preparado para o aprendizado intencional. No entanto, pode ser difícil se reconectar com essa capacidade após viver o modelo de educação escolarizado.
Algumas dicas são:
Crie um commonplace book (um repositório central de todos os seus estudos, anotações, reflexões e insights). Eu uso o Notion para isso
Escute mais o outro e faça mais perguntas
Adote hábitos saudáveis – beber muita água, comer mais frutas e vegetais in natura, pegar um pouco de sol todos os dias, estar na natureza, fazer exercícios físicos regularmente etc
Tenha momentos de ócio, pois são neles que o processo de incubação criativa acontece
Aprenda a fazer buscas melhores no Google
Entreviste pessoas que você admira
Não fique só no conteúdo: diversifique suas fontes de aprendizagem – Conteúdos, Experiências, Pessoas e Redes (CEP+R)
Compartilhe conhecimento com frequência
Seja humilde o suficiente para aprender com qualquer um
Peça a seus amigos para te indicar novos conteúdos que eles acham que você iria gostar (é uma forma simples de acionar a serendipidade)
Aprenda aquilo que você ama
» Qual dica você daria para quem quer iniciar no mundo do aprendizado autodirigido?
Não comece se perguntando “o que eu devo aprender?”, e sim “o que eu realmente quero aprender?”
Na minha experiência, os percursos de aprendizagem autodirigida mais exuberantes costumam surgir a partir de duas vias: curiosidade e propósito.
Curiosidade é sobre desejo – é o seu corpo te guiando rumo ao prazer da descoberta sem necessidade de qualquer explicação racional. Propósito é sobre acreditar profundamente em algo e se perceber como alguém que quer contribuir para que esse algo aconteça.
Acredito que essas duas vias são os gatilhos de aprendizado mais poderosos que existem.
» Como lidar com essa ansiedade de querer aprender tudo?
Pra mim, uma estratégia que funciona é separar o aprendizado em duas caixinhas diferentes: a primeira são as coisas que eu estou absorvendo sem maiores pretensões, e que por isso mesmo não precisam ser processadas de maneira tão cuidadosa.
A segunda são as coisas que eu quero me especializar, memorizar e/ou aplicar. Nessa caixinha, eu me preocupo mais em registrar, organizar e praticar o que estou absorvendo. Ter um commonplace book me ajuda muito nisso.
No fundo, o que quero dizer é que muitos momentos de aprendizado serão caóticos e efêmeros mesmo, e tudo bem. Mas, para aquilo que queremos aprofundar, é útil ter um pouco mais de método e rigor.