đ O Paradoxo de Abilene
Um conceito simples capaz de melhorar MUITO suas relaçÔes e ampliar sua autenticidade
Esses dias, viajando por Floripa, um amigo e uma amiga compartilharam comigo uma sabedoria preciosa.
Eu jå sabia intuitivamente sobre ela, mas ter entendido o conceito de onde ela parte fez toda a diferença.
Sabe quando as pessoas não se checam nas suas vontades e disposiçÔes?
Por exemplo: vocĂȘ acha que seu marido deseja viajar contigo para a praia e, por isso, propĂ”e essa ideia.
Algo para reanimar a relação, vocĂȘ pensa (embora sua vontade genuĂna fosse fazer uma viagem sĂł com suas amigas, ou atĂ© mesmo ficar relaxando em casa).
Ele, supondo a mesma coisa sobre vocĂȘ â e tambĂ©m nĂŁo muito afim de ir Ă praia â, topa o rolĂȘ essencialmente para te agradar.
A viagem acontece e Ă© um azedume sĂł.
NinguĂ©m estĂĄ realmente desejante de estar ali, mas, como a honestidade nĂŁo encontrou espaço para desabrochar, vocĂȘ e seu marido acabam vivenciando mais uma experiĂȘncia medĂocre/desastrosa.
Isso Ă© o đ Paradoxo de Abilene, proposto inicialmente pelo professor de gestĂŁo Jerry B. Harvey.
Infelizmente muito comum em interaçÔes sociais, esse paradoxo se baseia na suposição dos quereres e necessidades de outres.
E aĂ, para conseguir pertencer Ă relação (ou ao grupo) e ser amada, a pessoa sugere ou aceita coisas escondendo suas objeçÔes a respeito.
O Paradoxo de Abilene tem a ver com o conceito de duplo vĂnculo proposto na dĂ©cada de 50 pelo psicĂłlogo e pensador Gregory Bateson.
đ O duplo vĂnculo, na raiz, Ă© uma mensagem dĂșbia: ela contĂ©m ao mesmo tempo um âsimâ e um ânĂŁoâ.
Ăs vezes a palavra comunica uma coisa e o corpo outra. Ou a prĂłpria comunicação verbal deixa pistas ambĂguas, evasivas â seja conscientemente ou nĂŁo.
No fundo, é uma tentativa de estabelecer uma relação de poder. E uma inabilidade em tolerar uma eventual retirada do afeto da outra pessoa.
JĂĄ viveu algo assim? Eu jĂĄ.
O duplo vĂnculo Ă© algo bem complexo e que nĂŁo cabe por inteiro nos contornos deste texto. Voltemos ao Paradoxo de Abilene.
đ§° Como evitĂĄ-lo?
Tente perceber quando vocĂȘ estĂĄ propondo ou aceitando algo somente para agradar. Pode parecer inofensivo na hora, mas essa estratĂ©gia cobra um preço depois, inclusive na relação.
Treine a sua percepção do que a outra pessoa diz e do que ela nĂŁo diz. E, a partir disso, faça checagens constantes: âestou entendendo X, Ă© isso mesmo?â, âvocĂȘ realmente deseja isso?â, âcomo Ă© isso pra vocĂȘ?â
Na dĂșvida, aposte em uma comunicação explĂcita e com honestidade radical. NĂŁo Ă© fĂĄcil no inĂcio, mas as relaçÔes se aprofundam muito quando começamos a interagir mais frequentemente dessa forma.
Por menos Abilenes no mundo, por favor.
Obs 1.: Abilene na verdade Ă© uma cidade no Texas, e o nome deriva de um exemplo que Jerry Harvey utilizou no artigo que escreveu sobre o tema.
Obs. 2: aprendi sobre o Paradoxo de Abilene com o Cali e a LaĂs e sobre duplo vĂnculo com o JoĂŁo da Mata. Obrigado! đ
Eu cada vez mais estabeleço essas bordas, pois elas me livram dessa necessidade de ser amada. Senti que por um tempo era uma dor de pertencimento, que ainda dĂłi. E checar meu sentir me ajuda, muito. me vi aĂ, obrigada :)
valeu pela partilha, pelos dias juntos e por conseguirmos deixar a "Abilene" de fora em nossas interaçÔes. đ â€ïž