Ontem lançamos o livro Crenças Escolarizantes e foi maravilhoso!
Meu agradecimento de coração a quem tirou um tempinho para estar comigo nesse momento especial, mesmo talvez estando cansado depois de um dia inteiro de trabalho :)
Como prometido, aqui vai o link para fazer o download da versão digital do livro.
Com uns 20 minutos você consegue ler ele inteiro.
Atendendo a pedidos, quem quiser assistir à gravação do evento de lançamento é só baixá-la aqui (o arquivo expira em 7 dias).
Outra coisa que fez sucesso ontem foi a playlist da “ruína educacional” hehe. É uma playlist que eu fiz para o lançamento composta por músicas que criticam o sistema educacional tradicional.
Aqui vai o link para ouvir a playlist (aproveita e coloca outras músicas na mesma pegada lá).
Quanto ao livro, meu convite é: compartilhe o PDF com a sua rede. Mande para os amigos, familiares, colegas de trabalho, alunos, namorados, filhos e quem mais você quiser.
Pense em umas 10 pessoas pelo menos e envie o livro pra elas. Tá liberado!
O mundo será um lugar melhor se mais pessoas ousarem sair da fôrma escolarizante.
E agora, seguindo com a programação da Semana A2, você vai descobrir o que uma cientista que frequentou uma universidade secreta, um guitarrista que perdeu partes dos dedos e uma escritora que escrevia com cadernos que encontrava no lixo têm em comum...
Gênios anônimos e famosos: conhecendo as histórias de aprendizes autodirigidos
"Nossas sociedades avançam por meio dos esforços de aprendizes autodirigidos dedicados" (Lucy Guglielmino)
Pense em alguma área do conhecimento que você se interessa ou até mesmo com a qual você trabalha.
Os saberes dessa área não são os mesmos de 50 anos atrás, certo? E por que não são?
Dentre outras razões, porque algumas pessoas os fizeram avançar.
Nesta aula, você vai entender como aprendizes autodirigidos são imprescindíveis para a inovação, o empreendedorismo, as artes, a ciência e diversos outros campos.
Ao aprenderem a aprender, essas pessoas desafiam o status quo e propõem novas possibilidades teóricas e práticas. Além disso, elas são verdadeiramente apaixonadas pelo que fazem e entendem que os resultados do seu aprendizado não devem beneficiar apenas a si mesmas, e sim serem compartilhados.
A lista abaixo é fruto de uma pequena curadoria pessoal com histórias de aprendizes autodirigidos que, na minha visão, merecem ser mais conhecidas.
Vamos lá?
Marie Curie (cientista)
Conhecida mundialmente por ter descoberto a radioatividade, Marie Curie foi uma aprendiz autodirigida incansável apesar dos preconceitos que sofria na época como mulher e expatriada.
Toda sua trajetória como cientista, desde os experimentos iniciais com elementos radiativos até o uso de aparelhos de raio-X na Primeira Guerra Mundial, pode ser compreendida a partir de sua enorme vontade de aprender.
No entanto, o que pouca gente sabe é que, antes de se tornar uma pesquisadora renomada, Curie estudou em uma universidade secreta e informal para mulheres em Varsóvia, na Polônia, já que somente homens eram autorizados a cursar o ensino superior.
Nessa época, ela formou grupos de estudo autodirigidos e teve seu primeiro contato com a ciência experimental, o que a deixou profundamente encantada.
A universidade secreta funcionava de maneira clandestina e as atividades ocorriam cada vez em um lugar diferente, muitas vezes nas casas dos próprios alunos e professores por toda a cidade.
Apenas muito tempo depois, por pura insistência e pelos resultados de sua pesquisa que falavam por si só, Marie Curie conseguiu ser aceita no meio acadêmico formal.
Foi assim que ela conseguiu se tornar a primeira mulher a ocupar um cargo de professora na Universidade Sorbonne, em Paris, e a primeira pessoa a ganhar mais de um Prêmio Nobel.
Tony Iommi (guitarrista)
Uma das bandas que fizeram história no mundo do rock é o Black Sabbath, que criou o estilo que hoje conhecemos como heavy metal.
O que pouca gente sabe é que a história do guitarrista dessa banda, Tony Iommi, é uma história que exala aprendizagem autodirigida por todos os poros.
Iommi trabalhou em fábricas antes de se dedicar inteiramente à música e, em seu último dia de trabalho antes de se lançar de maneira definitiva como músico, sofreu um acidente que cortou várias partes de seus dedos.
Frustrado, ele achou que nunca conseguiria tocar guitarra de novo.
Foi então que o seu gerente na época lhe presenteou com um disco de um outro guitarrista que também havia sofrido um acidente na mão. Isso lhe ajudou a ter esperança.
A partir do acidente que poderia ter suplantado sua carreira musical, Tony Iommi inventou um novo jeito estilo de música. Criou próteses para seus dedos utilizando plástico e tecidos de uma velha jaqueta de couro.
Não foi fácil. Ele teve que reaprender a tocar, adaptando seu estilo e suportando dores enormes no início.
O som pesado e característico do Black Sabbath tem muito a ver com o acidente – e com a inventividade e persistência – de Iommi.
Por meio da aprendizagem autodirigida, ele "fez dos limões uma limonada".
Daniel Schmachtenberger (filósofo e futurista)
Se você quer entender como extrair sentido da realidade complexa que estamos vivendo, como evitar a "poluição informacional" e quais são os riscos do futuro da espécie humana, você precisa conhecer o trabalho do Daniel Schmachtenberger (não se preocupe, eu também não sei pronunciar o sobrenome dele).
Daniel é um filósofo contemporâneo que explora temas como inteligência coletiva, "design civilizacional" e o ciclo virtuoso entre o desenvolvimento dos indivíduos e da coletividade.
A série documental War on Sensemaking (Guerra na Construção de Sentido, em tradução livre) em que Daniel é entrevistado é de uma riqueza ímpar (infelizmente, está disponível somente em inglês). Nos vários episódios da série, o filósofo compartilha compartilha conhecimentos profundos costurando diferentes áreas do saber.
Ao longo de sua vida, Schmachtenberger foi desescolarizado e, desde cedo, pôde se aprofundar em áreas como design, filosofia, psicologia, tradições orientais e ativismo a partir do que lhe interessava.
E isso certamente teve um grande impacto na sua formação como pensador.
Emma Stoks (faculdade autodirigida)
Eu conheci a Emma em um desses impulsos cara de pau, fundamentais para a aprendizagem autodirigida acontecer.
Mandei uma mensagem pra ela no LinkedIn dizendo “minha história é muito parecida com a sua e eu adoraria me conectar com você”. Pouco depois, marcamos uma conversa por Zoom.
A Emma é uma jovem holandesa que, depois que se formou no ensino médio, decidiu criar sua própria faculdade de maneira informal e autodirigida.
Para isso, ela fundou uma empresa e começou a estudar os assuntos que a interessavam (cultura organizacional, oratória, relações internacionais etc) em profundidade durante três anos.
Após algum tempo, ela foi convidada para contar sua história no TEDx Amsterdã.
Nesse período, ela viajou o mundo fazendo pesquisas, criou um programa de liderança para diretores de escolas e aprendeu até a fazer campanha política.
Mais recentemente, ela optou por ingressar na Minerva, uma universidade cujo programa de 4 anos envolve intercâmbios para 7 países diferentes. Um baita exemplo de como continuar sendo uma aprendiz autodirigida mesmo optando por entrar no sistema formal.
Obs.: o aprendiz autodirigido pode transitar em quatro diferentes ambientes para aprender – formal, não formal, informal e incidental. Nem toda aprendizagem autodirigida é informal.
Carolina Maria de Jesus (escritora)
Carolina Maria de Jesus escreveu o famoso livro "Quarto de Despejo", composto por seus diários a respeito da vida em uma das primeiras favelas paulistanas na década de 50.
Negra, de origem pobre e rural, além de ter frequentado a escola somente por um ano e meio, Carolina foi uma escritora improvável.
Nasceu em casa de pau a pique no interior de Minas Gerais e, na cidade de São Paulo, onde se estabeleceu, escrevia em cadernos que encontrava no lixo durante seu trabalho como catadora de papel.
Quando era criança, simplesmente por ser uma menina negra que lia muito bem, foi presa com a mãe acusada de praticar feitiçaria. Em função disso, nunca mais pôde retornar à sua cidade natal.
São muitos os traços de Carolina Maria de Jesus que a caracterizam com aprendiz autodirigida. Embora tenha frequentado a escola por pouco tempo, sempre manteve o gosto por aprender e criar através da leitura e da escrita.
Em São Paulo, conseguiu emprego no consultório de um cardiologista e devorava os livros de sua biblioteca nas horas vagas. Sua filha disse certa vez que toda sua força vinha da cabeça, tanto para escrever quanto para carregar sacos de papel.
A resiliência e a força criativa de Carolina eram expressões de sua autodireção no aprendizado.
Luis Sérgio Ferreira (empreendedor e educador)
Eu conheci o Luis há mais ou menos uns dois anos, quando ele me enviou um e-mail dizendo que tinha saído da escola e que estava estudando sobre aprendizagem livre por conta própria (mais um gesto cara de pau, diga-se de passagem).
Na época, ele tinha 17 anos e havia feito um acordo com os pais: para poder sair do ensino médio e viver integralmente a educação que acreditava, ele elaborou um projeto descrevendo como iria conduzir o próprio aprendizado.
Desde então, o Luis deixou de ser o aluno que dormia nas aulas para se tornar um estudioso e um facilitador de aprendizagem autodirigida.
Tudo porque ele pôde seguir o que o seu coração lhe dizia a respeito do que e como aprender.
Hoje, com 19 anos, ele é um dos fundadores da Comunidade ReAprendiz, tutor do MoL Academy junto comigo e vem acumulando experiências ajudando outras pessoas a assumirem o controle da própria educação.
Nos tornamos amigos nesse processo, escrevemos um livro juntos e isso é só o começo do que ainda vamos fazer.
O que seria possível se mais jovens como o Luis pudessem aprender livremente a partir de suas paixões?
Joseph Campbell (mitólogo)
Considerando o maior estudioso de mitos do mundo ocidental, Joseph Campbell viveu uma história curiosa em sua biografia.
Depois de se irritar com os requerimentos acadêmicos e burocráticos para realizar um doutorado, o criador da jornada do herói resolveu buscar um caminho alternativo e e autodirigido de aprendizado.
Em 1929, abandonou o meio acadêmico, pegou todos os livros cuja leitura estava adiando e alugou uma cabana no meio do mato. Durante 5 anos, Campbell dedicou várias horas por dia para ler tudo aquilo que verdadeiramente lhe interessava.
Mais tarde, ele afirmou que aquela experiência foi a base de sua formação. Os anos mais cruciais para todo o trabalho intelectual que desenvolveu depois.
Além disso, seu retiro de estudos também serviu para que ele pudesse observar com clareza o que queria fazer com o resto de sua vida.
Se estivesse vivo hoje, Joseph Campbell talvez diria que estava fazendo um doutorado informal.
Obs.: os parágrafos acima sobre Joseph Campbell foram baseados em um texto do meu amigo André Camargo onde ele conta essa história.
Pode parecer que não, mas os aprendizes autodirigidos retratados acima não são pessoas especiais.
Eles são seres humanos como eu e você, mas que souberam como treinar a "musculatura" do aprender a aprender a partir do que lhes interessavam (curiosidade) e do que acreditavam (propósito).
Você também deve ter reparado que, como o próprio nome da aula já diz, eu não fiz distinção entre pessoas famosas e anônimas.
Isso é proposital, porque o ponto aqui é te mostrar que a aprendizagem autodirigida é uma habilidade disponível para todos, independentemente do quão reconhecido alguém é ou deseja ser.
A partir disso, eu te pergunto: quem são as pessoas que você conhece – pessoalmente ou não – que você considera aprendizes autodirigidas? E de que maneiras você poderia se inspirar e aprender com elas?
Como dizia John Taylor Gatto: "genialidade é tão comum quanto terra".
Obs. 1: amanhã (quinta) eu farei um anúncio muito especial. Se você curtiu o livro de Crenças Escolarizantes e essa aula de hoje, fique atento...
Obs. 2: na sexta, seguiremos com a programação de conteúdos da Semana A2 com um vídeo + infográfico sobre o CEP+R (Conteúdos, Experiências, Pessoas e Redes), um método que aglutina os principais caminhos pelos quais você pode aprender qualquer coisa.
Parabéns pelo lançamento do livro!! E por esse post fantástico. Curiosamente hoje li sobre Marie Curie em um livro sobre espiritualidade! Já salvei a playlist! Sucesso!