a partir do desabafo que escrevi no início desta semana, me permito recomeçar.
(muito obrigado a todes que deixaram comentários e que vieram me dar um xêro. não sei se conseguirei responder todo mundo, mas meu ser ficou quentinho ao testemunhar esse tanto de generosidade)
“aprender a recomeçar” é um dos pilares da educação que o zé pacheco propõe – passei os últimos dias relendo alguns capítulos do meu doutorado informal, inclusive a carta que enderecei a ele.
um educador no qual o zé se inspirou bastante é o agostinho da silva. um trecho escrito por esse outro autor português me tocou muito:
O que importa não é educar, mas evitar que os seres humanos se deseduquem. Cada pessoa que nasce deve ser orientada para não desanimar com o mundo que encontra à volta. Porque cada um de nós é um ente extraordinário, com lugar no céu das ideias… Seremos capazes de nos desenvolver, de reencontrar o que em nós é extraordinário e transformaremos o mundo.
achei bem bonito isso, e potente também.
“o importante é evitar que os seres humanos se deseduquem”, e aí ele cria essa associação maravilhosa entre a pessoa humana que já se nasce educada e o ser extraordinário que habita em todes nós, “com lugar no céu das ideias”. aaaaah!
as palavras de agostinho da silva me abrem o peito. me fazem voltar a velejar.
decidi que vou experimentar escrever cartas, assim como fiz no meu doutorado informal, como o zé também já fez e outras pessoas que admiro também fazem (peter gray – um dos maiores pesquisadores sobre o brincar e o aprendizado livre –, por exemplo, tem feito isso em seu substack).
a princípio, publicarei uma carta por semana. o destinatário será você aí, que teima em me ler.
isso talvez represente o início de um novo doutorado informal, isto é, de uma nova aventura de aprendizagem pela descoberta.
não sei ainda. vou plantar as primeiras sementinhas pra ver no que dá, com vagareza e atenção.
ao imaginar a escrita dessas cartas, que a princípio penso que podem elucidar um pouco o que venho pensando e sentindo no campo do aprendizado no período mais recente – embora “aprendizado” seja uma palavra que não alcance tudo que tenho pensado e sentido –, me lembro de uma história contada pelo almir paraca no caminho do sertão.
Um caminhante se perde no mato à noite e acaba encontrando um homem com uma lanterna. Animado, o andarilho dispara até ele e o questiona sobre o melhor trajeto até a casa mais próxima. Ao se aproximar, o caminhante percebe que o homem é cego. “Mas, porque o senhor carrega uma lanterna se não consegue enxergar?” “Para que você pudesse me encontrar. Juntos, agora, descobriremos o caminho”.
com essas cartas, eu quero me fazer encontrar (ainda me sinto um pouco cego, mas ó: eu tenho uma lanterna).
essa construção será conjunta, e eu te convido a vir comigo ver no que dá.
quem sabe não vira um livro, ou alguma outra coisa completamente diferente.
Amei e já estou na expectativa de ler as cartas e tecer estes caminhos todos, aprecio imenso a partilha :)
Lindo irmão. Após algumas cartas e experimentos, tenho certeza que olhará para trás e pensará com alívio: "Que bom que recomecei." E novos escuros nos encontrarão amanhã, mas nos lembraremos que a lanterna nunca saiu de nossas mãos, era só a gente ver dentro (ou ao redor). Beijooo, vamos encontrar em breve, esse finde ou na próxima semana.