O universo é mesmo muito generoso.
Poucos dias depois de ter publicado sobre a Residência Mol nas redes, algumas pessoas já vieram falar comigo oferecendo casas.
Na semana passada já fechamos o local e, pouco depois, o grupo de 10 residentes.
A experiência acontecerá na casa da Tamires – que está na turma atual do Mol³ – em Araçoiaba da Serra-SP, cidadezinha colada em Sorocaba e que fica a 100 km de São Paulo. A Tamires, além de oferecer a casa, também será uma das residentes 👩
Embora tenhamos escolhido fazer nossa morada coletiva temporária no interior de SP, a intenção é aproveitar o melhor dos dois mundos com uma viagem de um final de semana a São Paulo nos dias 5 e 6 de agosto.
Além disso, também iremos ao Hack Town, um festival de inovação e criatividade que acontecerá em Santa Rita do Sapucaí-MG durante os dias 17 a 20 de agosto (e é bem possível que tenhamos um espaço na programação do evento para contar sobre a experiência da Residência). E aí, bora lá também? 🤩
Tudo isso está me deixando extremamente entusiasmado e, se a ideia de viver uma residência também te empolga, aqui vão 10 aprendizados iniciais pra você criar a sua:
Acione sua rede e veja se alguém pode ofertar um espaço para sediar a experiência. Sai muito mais barato do que alugar via Airbnb ou qualquer outro meio. No nosso caso, o acordo com a Tamires envolveu a participação dela sem custos como uma das residentes, de modo que os gastos da casa serão rateados pelo restante do grupo.
Pense num período não tão curto, mas também não muito longo para experimentar. 1 mês, ao meu ver, é ótimo. É muito bom que o processo tenha início, meio e fim, pois, como eu já disse em um outro texto, a finitude intencional dá sabor ao que vivemos.
É preciso não apenas fazer as pazes com a finitude, não apenas abraçá-la com todo o amor, mas também utilizá-la como ferramenta, como tempero, porque com ela tudo fica mais saboroso.
Criar um tema para a sua residência não é algo estritamente necessário, mas pode ser interessante a fim de posicionar melhor o que o grupo intenciona viver. No nosso caso, eu propus uma investigação sobre "Reflorescimentos” no contexto pós-pandemia:
Reflorescimentos
3 anos após o evento que pausou nossas vidas e ceifou tantas outras, é tempo de reflorescer.
A pandemia do novo coronavírus pode ter ficado no passado, mas outras pandemias nos assolam.
A solidão é pandêmica, a desatenção é pandêmica, ansiedade e depressão são pandêmicas, vidas no piloto automático são pandêmicas.
O que significa “reflorescer” nesse contexto? E como uma residência de aprendizagem pode contribuir nisso?
A 1ª edição da Residência Mol buscará acolher essas questões, criando reflorescimentos coletivos e individuais a partir do convívio entre as pessoas residentes e de experiências intencionais de conexão e aprendizado.
É importante escolher bem quem serão as pessoas residentes, pois essa variável, junto com a decisão sobre a casa, vai impactar intensamente toda a experiência. O número de pessoas pode variar e precisa ser adequado ao tamanho do espaço disponível. No nosso caso, eu convidei 10 pessoas já ligadas à comunidade do Mol e com as quais eu me dou muito bem. Cada uma delas traz consigo um “pacote de interessâncias” que eu acredito que somará ao grupo 📦
Estou planejando usar os primeiros 1-3 dias da residência para propor uma série de momentos de conexão e criação de confiança entre o grupo. Depois, a ideia é que cada residente viva a sua rotina individual, cuidando para que regularmente possamos estar todes juntes trocando e aprendendo intencionalmente (veja o ponto 6).
O que diferencia uma residência de aprendizagem de uma república? Talvez o principal aspecto seja a intencionalidade. Em geral, numa república as pessoas decidem morar juntes simplesmente por conveniência e/ou para reduzir as despesas. Nada de errado com isso, mas numa residência o grupo se reúne com uma intenção explícita de se desenvolver. Para tanto, é essencial criar momentos periódicos de aprendizado e conexão, sejam jantares semanais organizados coletivamente ou experiências mais elaboradas a partir de A³ como Abrir Ofertas, Atendendo Pedidos, Portal e Momentos Memoráveis, por exemplo.
A³ = Arquiteturas de Aprendizagem Autodirigida = “jeitos de pensar e fazer” que potencializam a aprendizagem autodirigida individual e em comunidade.
Crie uma experiência permeável ao meio externo: abra a casa para visitas, traga convidades que possam agregar nos processos de aprendizado das pessoas residentes, faça eventos de compartilhamento para contar o que está sendo vivido etc. A residência é como um organismo vivo que se fortalece a partir das trocas que estabelece com o seu exterior 🦑
Se puder, faça excursões! Lembra das viagens que tínhamos na escola? Não sei pra você, mas pra mim as excursões de que já participei foram momentos muito especiais na minha infância e adolescência. E, no caso de uma residência, viajar com o grupo é saudável, pois abre paisagens novas para além da casa onde todos estão passando boa parte do tempo. Com essas novas paisagens, surgem também novas formulações e descobertas para cada residente.
Crie (e estimule o grupo a criar) objetos de pertencimento, isto é, coisas que possam permanecer na casa durante o período da residência e que ajudem as pessoas a perceberem que aquele espaço é especial. Eu, por exemplo, pretendo levar uma bandeira customizada com o tema “Reflorescimentos” e presentear cada residente com um Mol-etom (o moletom do Mol) 😆
Faça registros e e compartilhe a experiência que vocês estão vivendo através dos canais e formatos que fizerem sentido: redes sociais, lista de e-mails, blog, podcast, vídeo, registros físicos/analógicos como um caderno que vai sendo preenchido coletivamente ou um jornalzinho do grupo etc. Tudo isso vai gerando uma espécie de memória coletiva que depois será muito gostosa de relembrar, além de potencializar o aprendizado de todes, dentro e fora da casa.
Após colocar no papel esses 10 aprendizados, outros 3 pipocaram na minha mente:
Caso as pessoas precisem trabalhar remotamente durante a residência, uma conexão à internet estável e de alta velocidade é fundamental! (obrigado, Luis Sérgio, por esse lembrete!)
Ao contar sobre a residência para algumas pessoas, por vezes senti uma reação de “isso é muito legal, mas não é pra mim”. É obviamente legítimo não querer ter esse tipo de experiência na vida, mas vale se perguntar se essa preferência é de fato por conta de um não desejo ou devido a crenças como “sou muito velho pra isso”, “minha configuração familiar não permite” (leva a família também!) ou “morar junto só dá treta” (e, por isso, automaticamente não vale a pena).
Uma das coisas mais interessantes de se criar uma residência – e outros arranjos de moradia temporários – é não ter que escolher de maneira definitiva um certo jeito de morar. Conheço muita gente que gostaria de morar mais coletivamente, por exemplo, mas não concretiza essa vontade por não querer abandonar as vantagens de se morar sozinhe ou com poucas pessoas. E quem disse que é preciso escolher (taxativamente)? Por que não experimentar/alternar?
O modo como escolhemos morar, quer seja temporariamente ou não, é uma das variáveis de contexto que mais impacta nossas vidas, inclusive na dimensão do aprendizado 🛖
Residências são experimentos sociais/educacionais que criam atalhos para o afeto, a serendipidade e a criatividade.
Por que não criar uma?
Alex, suas ideias, atitudes e essa residência é florescimento na essência. Me coloco à disposição para aplicar o teste de Forças de Caráter do Florescimento para cada residente e vocês montarem a árvore de forças da casa. Dá um belo ritual, além fornecer uns pinduricalhos para sua bandeira. 😀