Como construir a vida que você sonha dentro da vida que você leva
Todos temos vidas ideais de estimação.
Aquelas que iriam acontecer – finalmente – depois de sairmos do emprego chato, depois que os filhos crescerem, depois de pagar o tão suado apartamento, depois de sermos promovidos, depois de começarmos a estilosa vida nômade, depois de empreender o projeto que está na gaveta há tempos...
Depois.
Se tem uma coisa que aprendi lendo o livro sobre dopamina é que o desejo dopaminérgico não tem fim.
Você alcança algo, e aí, neste exato momento que deveria ser de saborear, você já quer mais.
O horizonte nunca realmente chega, não importa quantos passos você dê.
Faz parte da amaldiçoada e ao mesmo tempo abençoada condição humana poder se perceber no tempo – e decidir o que fazer com ele.
Talvez faça sentido, a partir dessa constatação a respeito da nossa configuração biológica, arquitetar momentos, instantes, pequenas fendas que permitam que o tão sonhado “depois” penetre, nem que seja um pouquinho, na realidade por vezes insossa em que vivemos.
Talvez esta arquitetura de momentos, esta acupuntura de instantes, ainda que efêmera, seja justamente o caminho que nos leve, sem perceber, aos destinos que ferozmente fantasiamos.
Ou não: podemos ser apresentados – é mais provável que seja assim – a paisagens totalmente desconhecidas. Um mix imprevisivelmente belo dos vários pedacinhos da realidade interagindo a partir do elemento novo que tivemos a coragem de depositar neles.
Uma reorganização do viver, operada ao mesmo tempo naquilo que é real e na nossa percepção do real.
Uma tessitura de novos afetos, possibilitada pela ousadia de, simultaneamente, embarcar na fantasia e realizar o que é viável.
É possível construir a vida que sonhamos dentro da vida que levamos.