Todos nós fomos baleados – mas talvez você ainda não saiba
Sobre o documentário The Wisdom of Trauma, que você precisa assistir
Ontem organizamos uma exibição do filme The Wisdom of Trauma (A Sabedoria do Trauma) para os membros do MoL seguida de uma roda de conversa.
É a segunda vez que assisti, e acredito que não será a última.
Em 1h30, com legendas em português, você descobre que existe um conhecimento fundamental para a humanidade que ainda é muito pouco acessado pelas pessoas.
O conhecimento sobre o trauma. E de suas consequências – ou melhor, das consequências do seu não processamento adequado – na vida de bilhões de pessoas e na nossa paisagem social e coletiva.
Eu até poderia compartilhar com você minhas anotações sobre o documentário – me orgulho delas hehe – mas, desta vez, o melhor que posso fazer é te instigar a assisti-lo, te incitar a descobrir por si mesmo.
Acima de tudo, é um documentário esteticamente tocante. Não há anotações em papel ou páginas do Notion no mundo que substituam uma boa experiência estética vivida em primeira pessoa.
Eu também poderia ficar aqui fazendo várias relações entre o trauma e a cultura educacional hegemônica da qual invariavelmente fazemos parte em alguma medida.
Poderia dizer sobre como os ambientes educacionais tradicionais esfacelam nossa autenticidade, além de minimizar as possibilidades de acolhimento frente às experiências adversas da vida.
O trauma, afinal, é isso (e aqui vai um pequeno spoiler): viver uma experiência intensa e adversa sem ter o acolhimento necessário para lidar com ela.
Adivinha quem vive experiências traumáticas com muita frequência? Crianças. E onde as crianças passam boa parte do seu tempo? Nas escolas.
As escolas, então, deveriam ser grandes geradoras de situações de acolhimento, conexão, comunidade e autenticidade, as fontes de cura do trauma. E não causadoras de mais trauma.
Não quero entrar tanto nesse assunto. Melhor seria relembrar – e isso certamente vai acontecer se você assistir o filme – as situações traumáticas que te ocorreram especialmente quando criança ou adolescente, dentro da escola e fora dela.
O ponto é que o trauma é uma coisa tão difundida, tão arraigada, tão estruturante em todos os nossos sistemas sociais que me soa até raso focalizar a análise de um sistema apenas (o educacional).
Por isso, melhor parar por aqui. O filme fica disponível até domingo, dia 1º de agosto, para ser assistido na íntegra. Link aqui.
Você vai começar a enxergar os buracos da sua alma. E vai perceber, principalmente se puder ter conversas significativas com outras pessoas que também assistiram, que esses buracos perfuraram todos nós.
Pode ter sido com armas de calibres diferentes. É claro que os ferimentos de uns são muito mais penosos que de outros.
Mas todos nós, em algum momento, fomos baleados.
Uma constatação tão triste quanto poderosa.