Todos somos cientistas. Apenas alguns são acadêmicos
Para o educador e precursor do unschooling John Holt, ciência é sinônimo de aprendizagem.
Aprender = fazer ciência = compreender as coisas.
Simples assim.
"O que fazemos quando aprendemos, quando criamos aprendizagem? Bem, nós observamos, olhamos, ouvimos. Tocamos, experimentamos, cheiramos, manipulamos e, às vezes, medimos ou calculamos. E então nos interrogamos, dizendo: 'Bem, por que isso?', ou 'Por que isso é assim?', ou "Esta coisa fez essa outra acontecer?', ou 'O que fez isso acontecer?', ou 'Podemos fazer isso acontecer de modo diferente ou melhor?', ou 'Podemos eliminar a cochonilha do pé de feijão?', ou 'Podemos colher mais frutas do que as que colhemos este ano?', ou o que quer que seja. E então inventamos teorias, que os cientistas chamam de hipóteses; damos palpites, dizendo: 'Bem, talvez seja por causa disso', ou 'Talvez por causa daquilo', ou 'Pode ser que, se eu fizer isso, aconteça aquilo'. E depois testamos essas teorias ou hipóteses".
Toda criança e todo ser humano é capaz de fazer ciência, desde a mais tenra idade, pois isso é o mesmo que aprender.
"Esse processo cria aprendizagem e todos nós o praticamos – não apenas o pessoal do Massachusetts Institute of Technology (MIT), ou o de qualquer outra instituição científica famosa. Nós fazemos isso. E isso é também o que as crianças fazem".
É preciso deselitizar o fazer científico.
Desencastelar a ciência dos muros da academia.
Isso tem ficado muito vivo pra mim no meu estudo sobre substâncias psicodélicas.
Muitos curandeiros, terapeutas e tradições espirituais já têm aplicado tratamentos com base nessas substâncias com sucesso. Um exemplo disso pode ser visto aqui.
Outro tema sobre o qual venho aprendendo é a prática do jejum, difundido pelo movimento higienista desde o século XIX. Existem inúmeros relatos a respeito dos benefícios do jejum para tratar e até mesmo curar doenças. Mais infos aqui.
Seriam essas investigações não científicas, uma vez que são predominantemente não acadêmicas? Seriam, por isso, menos importantes? Por que não encontram espaço na academia?
Longe de mim querer desvalorizar a ciência acadêmica. Precisamos dela.
Mas também precisamos que o academicismo não desvalorize a pluralidade de ciências que podemos fazer a qualquer momento de nossas vidas, mas que frequentemente não encontram guarida no meio acadêmico tradicional – que é político e tem interesses, como qualquer outro.
Todos somos cientistas. Apenas alguns de nós somos acadêmicos.
Obs. 1: as citações de John Holt são do seu livro Aprendendo o Tempo Todo.
Obs. 2: o fato de eu citar matérias sobre psicodélicos e jejum não quer dizer que eu automaticamente concorde com tudo que se afirma nelas.
Obs. 3: sobre psicodélicos, recomendo a série How To Change Your Mind (Como Mudar Sua Mente, em tradução livre) no Netflix, e também o livro de mesmo nome do jornalista norte-americano Michael Pollan.