A experiência do MoL, que agora se tornou uma Universidade Livre Ao Longo da Vida, tem me trazido muitas reflexões.
O desenho atual conta com:
Encontros semanais via Zoom
Dois grupos de Whatsapp (um somente de avisos e outro de interação livre)
Agenda de Pedidos e Ofertas contínua (pessoas podendo pedir e ofertar ações de aprendizado entre si)
Dentre outros artefatos.
São mais de 200 pessoas participando. E, se por um lado esse número é incrível, por outro ele também nos traz alguns desafios.
O grupo de interação no Whatsapp, carinhosamente chamado por nós de grupão, está abarrotado de mensagens.
É muito legal ver as pessoas conversando e tecendo conexões entre si. Mas é uma minoria que participa por lá.
E, quanto mais você deixa de acompanhar o grupo, mais preguiça você tem de voltar a acompanhar, pois as mensagens se acumulam – aconteceu comigo esta semana.
Isso sem considerar o FOMO (Fear of Missing Out ou Medo de Estar Perdendo Algo) que se agrava na mesma proporção do aumento de caracteres não visualizados.
Afinal, pode ter Algo ali que eu estou perdendo.
A velocidade do grupo é muito superior à velocidade de processamento da maioria das pessoas, e assim elas ficam pra trás. E, por conta disso, se sentem cada vez mais ansiosas e desconectadas.
Nos momentos síncronos, o fato de ter muita gente na sala torna o preenchimento da Agenda de Pedidos e Ofertas caótico.
Estamos utilizando uma planilha do Google para criar essa agenda, e em um dos encontros ela travou devido à grande quantidade de pessoas editando ao mesmo tempo.
O recurso de salas simultâneas do Zoom ajuda muito no sentido de possibilitar conversas mais acolhedoras e potentes. Utilizamos esse recurso com frequência.
Mas, ainda assim, percebo que o processo de se criar vínculos mais profundos – a base de toda comunidade – tem sido prejudicado no desenho atual.
Isso não quer dizer que as conexões não estejam acontecendo.
Seja nos grupinhos, nas ofertas e até mesmo nas trocas assíncronas (especialmente nas conversas 1-1), os vínculos entre Moleiras e Moleiros estão sendo semeados.
Mas, como Arquiteto de Aprendizagem Autodirigida, é inevitável perguntar:
“Como fertilizar melhor o solo para que essas sementes floresçam?”
Até o momento, minhas duas hipóteses centrais são:
Construir grupos pequenos (de até 10-12 pessoas), autônomos e descentralizados
Incluir mais leveza e lentidão no desenho da comunidade
Entro em mais detalhes sobre cada uma abaixo.
Grupos pequenos
“Nunca duvide que um pequeno grupo de pessoas conscientes e engajadas possa mudar o mundo. De fato, foi sempre assim que o mundo mudou” (Margaret Mead)
Cada vez mais, minha visão como construtor de comunidades é de que precisamos projetar intencionalmente grupos pequenos – com eventuais oportunidades de conexão entre si e energizados por um propósito maior.
O caso da Buurtzorg, recentemente estudado pelo meu amigo-irmão Luis Sérgio Ferreira, representa bem isso.
A Rebeca Lissa, outra amiga querida e, assim como o Luis, companheira de MoL, me contou sobre o modelo de comunidades de flocos de neve (snowflake model of community engagement), que funciona essencialmente a partir de grupos locais autônomos vinculados a coordenações regionais.
Esse modelo foi utilizado, por exemplo, para gerir as ações de voluntariado da campanha presidencial do Obama nos EUA.
E parece que deu certo.
Leveza e lentidão
Além disso, como afirma o filósofo nigeriano Bayo Akomolafe, companheiro do movimento global de Ecoversidades:
“Os tempos são urgentes: precisamos desacelerar”
A maior necessidade do mundo hoje, ao meu ver, é desacelerar.
Cultivar deliberadamente a lentidão. A presença. Menos em vez de mais.
Outra amiga – e que privilégio o meu, poder aprender com tantas pessoas queridas! –, a Su Verri, escreveu um artigo no nosso livro Se Joga Que Aqui Tem Rede sobre slow learning (aprendizado lento).
Está tudo muito rápido e as pessoas estão exaustas, desgastadas, sobrecarregadas. E isso apenas reforça o status quo.
Uma vida hiperprodutiva pode até gerar aprendizagem incremental (aquela que é útil para você continuar fazendo o que faz), mas dificilmente produzirá aprendizagem transformacional (aquela que pode alterar os rumos do que você faz).
Não adianta forçar a saída do casulo: somente a borboleta, em seu próprio tempo, poderá fazê-lo.
No desenho atual do MoL UniLivre, sinto que talvez estejamos adicionando ainda mais correria à correria das pessoas.
Possivelmente, o ideal seria ter menos encontros. Menos frequência de interações assíncronas. Menos ofertas – ou, talvez, ofertas concentradas em um curto período de período, como ocorria brilhantemente nas Semanas de ALCs Online.
(Até aplicativos de relacionamento estão fazendo isso...)
Em outras palavras: um desenho intencionalmente projetado para a calma e a lentidão.
Um desenho que permita às pessoas surfar sem se afogar. E que contribua para apaziguar a ansiedade em vez de nos deixar mais ansiosos e ansiosas.
Faz sentido?
Obs.: perdeu o webinar de lançamento do meu novo ebook ontem? Tá aqui, ó.
Alex, muito bom o texto e o compartilhamento. Até já passei por essa experiência de muitas pessoas colaborando juntas onde acabou sendo "demais". Dividir funcionou no meu caso, e acho que é um ótimo caminho para seguir no seu.
Vou levantar mais um ponto: será que o chat, e especialmente o Whatsapp, é a melhor ferramenta para organizar essa comunicação/interação? Participo da comunidade Officeless e lá se discute bastante sobre isso e a conclusão é que o chat, por si só, causa ansiedade e dificulta interações mais profundas.
Existem ferramentas, como o Twist (https://twist.com/pt-BR/) e o Basecamp (https://basecamp.com/) que foram criadas desde o início para serem assíncronas e estimular essa "lentidão proposital". Ambas são pagas, mas o ponto é que parte do problema pode estar na ferramenta escolhida. Ferramentas de chats que permitem threads, como o próprio Telegram e o Slack, apesar de ainda causarem ansiedade podem ser estruturadas para conduzir essas interações de forma melhor que o Whatsapp.
Poxa Alex, até com um texto onde você propõe mudanças, a gente aprende.
Eu estava hoje mesmo compartilhando com minha equipe de trabalho sobre o bombardeio de informações que estamos recebendo e, que estão fazendo as pessoas perderem o foco ou deixando elas agoniadas, pois não conseguem absorver tudo aquilo ao mesmo tempo.
Isso me ajudou demais e me trouxe um excelente insight para gerir essa crise por aqui.
Ah, e eu acho que sim, faz todo o sentido o que você sugere.
Muito obrigado.