Eu estou um pouco afastado das pesquisas acadêmicas em educação.
Durante um tempo, fiz mestrado na Faculdade de Educação da USP (depois de concluir meu doutorado informal – sabe como é, a ordem desses títulos não significa muito pra mim).
Foi bom, aprendi um montaréu de coisa – e também testemunhei a montanha de contradições do sistema.
Mas sabe uma pesquisa em educação que eu adoraria fazer? (e que talvez já tenha alguém por aí fazendo?)
O quanto de “brinuzói” as professoras e professores (ainda) têm.
O quanto essas pessoas se sentem livres e conseguem firmar o pé para serem realmente criativos na sua prática, na sua sala de aula, na sua escola, no seu chão, a partir das conexões que vão tecendo continuamente com quem o habita.
O quanto respiram de autonomia profissional. O quanto se percebem como agentes de transformação. O quanto sentem que “podem” – como se vê na ideia de “empodimento” de Tião Rocha.
Não estou falando de pessoas educadoras que acreditam exatamente no que eu acredito (aprendizagem autodirigida/livre de coerções de toda ordem).
Até pode ser isso, mas é algo além disso.
Sabe aquele professor ou professora que ainda não morreu (como diz José Pacheco)?
Isso é o brinuzói – ou, em português culto, brilho nos olhos.
Minha hipótese é que escolas onde há muitas professoras e professores com brinuzói são melhores – não necessariamente no sentido do desempenho escolar, até porque isso não quer dizer nada, mas de:
Pluralidade de perspectivas de mundo
Preparação para a vida
Motivação para aprender
Senso comunitário e conexão com o território
Vínculo entre pessoas educadoras e estudantes (e também de alunes entre si)
Menos bullying, discriminação e violências
Saúde mental
etc.
Faz sentido?
Iniciativas como a BNCC (Base Nacional Comum Curricular), ENEM e vestibulares apagam o brinuzói, pois toda a riqueza possível da educação escolar, ao ser enfiada dentro desses canais estreitos, é reduzida a um único filete d’água conteudista, massificador e mediocrizante.
Neste artigo – em inglês, mas, como sempre digo aqui, é só usar o tradutor do navegador que dá pé –, Peter Gray, um dos maiores pesquisadores em aprendizado livre do mundo, descreve o que aconteceu nos Estados Unidos a partir da institucionalização do Common Core (o currículo nacional de lá).
O cenário não é nada animador.
E se os governos criassem uma Política Nacional de Brinuzói na educação? Ou um Programa de Reencantamento Escolar?
Eu adoraria participar de algo assim.
E o seu brinuzói, a quantas anda? Como seria uma educação pautada pelo brinuzói das pessoas?
Me conta nos comentários! 🤩
Sai da equação formal (depois de 22 anos de sala de aula), justamente por me perceber sem aquele "brinuzoi" que dá sentido a prática docente.
Faço parte de uma comunidade (Mol, acho que vc conhece...rsrrsr), lá tem um mantra que faz muito sentido pra mim, principalmente depois de morar em comunidade e experimentar, na prática, a força do coletivo: "crie o que vc quer que exista".
Então meu caro, amado e querido amigo, vamos criar juntos essa escola onde "brinuzoi " é projeto pedagógico?? Acho que tem muito caldo e potencial nisso hein...bora?
Como professora de Filosofia do ensino médio, em Camaçari/BA. comentarei sobre brilho nos olhos, mesmo começando em 2018, mas percebendo situações que causam descrença no futuro dos jovens. O Governo da Bahia criou uma lei para aprovar mesmo os que não foram aprovados. Este é o maior motivo do desinteresse dos alunos. A nossa vantagem contrariando o artigo, é a liberdade de ministrar conteúdos. O desinteresse é cada vez maior a falta do aluno, o uso constante de celular, etc. O brilho nos olhos é de quem ainda acredita numa geração em construção, e com o reconhecimento de alunos pelo aprendizado de vida. Algo foi salvo e persistirei até onde o meu brilho durar.