Como organizar e gerir um projeto de aprendizagem autodirigida de forma prática, se fomos acostumados a receber "grades" curriculares prontas?
Recebi essa pergunta na semana passada e achei muito pertinente.
De fato, na educação fomos aculturados com (e nas) “grades”. E isso, além de silenciar e excluir diversos conhecimentos valiosos que poderiam ser abordados nas escolas e universidades, gera um efeito ainda pior: a destruição do desejo por aprender e da autodisciplina para persistir nesse processo.
Começar a pensar na própria aprendizagem a partir das lentes da autodireção é ainda mais desafiador quando o sistema educacional tradicional opera em nós, por anos, no sentido exatamente oposto (heterodireção).
Como fazer, então?
O primeiro passo é descobrir o que te fascina – ou, como gosto de dizer, o seu “Horizonte”. Esses “objetos de fascínio” ou fenômenos que te encantam aprender provavelmente irão mudar ao longo do tempo, mas são eles o ponto de partida. São eles que te fornecerão o combustível necessário para criar e sustentar seus próprios percursos.
(Três dicas para descobrir o seu Horizonte: siga o fio das suas curiosidades; perceba as mudanças e as causas nas quais você acredita; e saia em busca daquilo que faz o seu coração vibrar)
Ao longo do caminho, algumas necessidades aparecerão, dentre elas a de “gestão” do próprio percurso e a organização do conhecimento gerado.
Algumas dicas nesse sentido são:
Explore os CEP+Rs a partir do seu Horizonte: uma vez que você já sentiu para onde o seu Horizonte está apontando, o próximo passo é encontrar os caminhos pelos quais você pode se aprofundar mais nele. É aí que entram os Conteúdos, Experiências, Pessoas e Redes (CEP+R), e uma das maneiras mais fáceis e rápidas de mapear esses caminhos de aprendizado é entrevistando pessoas mais experientes que você na sua área de interesse. Encontre de 2 a 3 pessoas que topem compartilhar com você quais foram as fontes ou referências ou experiências mais importantes pra elas ao aprender sobre o seu tema.
Recorte o processo em ciclos ou “temporadas” curtas: em geral, o ser humano precisa sentir que está progredindo para se manter motivado. Uma forma de fazer isso é “recortar” seu percurso em fases menores. Se você tem o objetivo de escrever um livro, cada capítulo pode ser uma dessas fases. Se está aprendendo inglês, você pode criar um desafio prático a cada mês, aumentando progressivamente o nível de dificuldade. O mais importante, no entanto, é manter uma rotina consistente de aprendizado.
Tenha um commonplace book: um commonplace é um repositório central dos seus principais aprendizados. Com ele, você evita aquela coisa de ficar registrando seus insights em vários lugares diferentes, o que gera uma dor de cabeça na hora de fazer algo de útil com toda essa informação. Seu commonplace book pode ser físico ou digital. O meu é digital, no Notion (um app bem legal e gratuito de gestão do conhecimento que eu sempre recomendo por aqui).
Processe o conhecimento compartilhando frequentemente: eu vejo por aí muitos métodos – alguns até bem complicados e engessados – de sistematização de conhecimento. No entanto, pra mim o que mais dá resultado é algo muito mais simples: crie oportunidades frequentes para compartilhar o que você está aprendendo, das formas que fizerem sentido pra você. Ao comunicar suas descobertas, você precisa organizar bem suas ideias e concatená-las, pois o seu objetivo é que o outro entenda e aprenda com você. E isso funciona como um “hack” para que você faça um bom processamento do que aprendeu.
E aí, que outras dicas você daria sobre gerir e organizar um projeto de aprendizagem autodirigida?
Obs. 1: na Semana A2, eu vou aprofundar bem mais nessas e em outras dicas. Não esquece de colocar na agenda: de 26 de outubro a 2 de novembro!
Obs. 2: 10 perguntas.