Ligar a câmera ou não, eis a questão
Um dilema novo, mas com raízes antigas.
“Presta atenção na aula, fulano!” “Vocês não param de conversar nem por um minuto!” “Saia já da sala, você está expulso!”
Reconhece essas falas?
Não ligar a câmera pode ter inúmeras razões, desde a falta de costume com a tecnologia até a vergonha em mostrar o interior da própria casa.
Muitas vezes, porém, é falta de interesse mesmo. Falta de vontade de se posicionar ativamente naquele espaço.
Falta de tesão.
É muito fácil culpar os alunos ou colaboradores por essa falta de interesse.
“Se eles realmente valorizassem o que estamos fazendo, é óbvio que eles pelo menos mostrariam a cara!”
Também é bem comum buscar saídas para tornar as aulas, os workshops e os eventos mais engajantes.
Metodologias ativas, palestras com gente famosa e toda sorte de piroctenias são utilizadas com esse objetivo.
O que eu vejo pouco é uma reflexão mais profunda sobre as raízes sistêmicas e contextuais dessa “falta de interesse”.
Pressionar alguém para ligar a câmera pertence ao mesmo rol do “presta atenção na aula, fulano”.
Duas faces de uma mesma moeda. Que não serve pra nada.
O aluno ou o colaborador pode até ligar a câmera. Mas isso não garante que ele está saboreando o momento.
A diferença é que, no presencial, forçar as pessoas era mais fácil e, portanto, o fingimento era mais frequente – como tática de resistência ao comando-e-controle.
É possível até fazer sexo com a cabeça em outro lugar. Que dirá assistir uma aula.
Na verdade, a pessoa que está do outro lado da tela, seja qual for a sua idade, tem sim seus interesses.
Suas curiosidades. Seus sonhos – ainda que não tenha despertado pra eles. Suas vontades. Suas necessidades ansiosas por serem atendidas. Seus anseios por contribuir para algo além dela mesma.
Enfim: tudo aquilo que nos move.
Talvez esses interesses estejam soterrados por camadas e camadas de imposições, obediências, comparações, padronizações e medos.
E, como você deve imaginar ou já ter visto em alguma cena de filme, resgatar alguém dos escombros nem sempre é fácil.
A obrigação de “ligar a câmera” não ajuda nesse resgate.
Só põe mais pressão em cima de quem já está soterrado.
Olá . . . sim! fazer qualquer coisa por obrigação é brochante. Sem um mínimo de encantamento fica difícil. Duas considerações (a partir da minha experiência com alunos de IES): (i) a interação que melhor funciona com os alunos é via chat . . . após blocos curtos (uns 10 min) de exposição ou interação, pergunto "Como ficou está parte para você?" e o gabarito é: (1) ok; (2) mais ou menos; (3) favor revisar ... e basta o aluno digitar o número . . . aproximadamente uns 40% dos alunos participam ativamente desta dinâmica . . . assim o prof. e os alunos ficam sabendo o que está se passando na turma imediatamente . . . o que permite ajustes; (ii) existem alunos que preferem aprender sem interagir "com humanos" (e com desempenho acima da média!) . . . e assumem a responsabilidade pelos ganhos ou perdas desta escolha.
Alex perfeito. Maravilhoso. Teu texto tocou meu coração e me fez pensar sobre como estamos reproduzindo no mundo virtual e as mazelas e vícios do mundo real. Nos sentimos atualizados e tecnológicos, mas continuamos enterrados ou melhor soterrados, nas velhas formas de fazer !! Adoreiiiiiiiiiiiiiii