4 metáforas para entender a crise da educação convencional
Uma elaboração a partir dos ensinamentos de John Holt
John Holt foi um educador e escritor americano que criticou profundamente a educação escolar como a conhecemos.
No final de seu livro Aprendendo o Tempo Todo (que recomendo muito), ele fala de três metáforas enganosas/danosas a respeito da educação.
(Metáforas emolduram entendimentos através de imagens. E assim influenciam nas nossas maneiras de pensar e agir)
A primeira é que o aprendizado se dá como uma linha de produção industrial, de modo que os alunos e alunas são os produtos.
“(…) a educação como uma linha de montagem em uma fábrica de enlatados ou engarrafados. Penduradas nas esteiras estão filas de recipientes vazios de diferentes formas e tamanhos. Ao lado delas, uma série de aparelhos de esguichar, controlados pelos empregados da fábrica. À medida que os recipientes passam, os empregados esguicham em seu interior variadas quantidades de diferentes substâncias – leitura, ortografia, matemática, história, ciências. (…) O pressuposto é que qualquer coisa que se esguiche no recipiente entrará nele, e uma vez em seu interior, ali permanecerá”.
A segunda metáfora é a do laboratório, que apresenta as pessoas estudantes como cobaias de testes descolados da realidade.
“(…) os alunos na escola como ratos de laboratório em uma gaiola, sendo treinados para fazer algum tipo de truque. Na maioria das vezes, um tipo de truque que nenhum rato da vida real teria qualquer razão para fazer. Põe-se, por exemplo, o rato em um lado da gaiola e, no outro, um triângulo e um círculo. Se o rato pressiona a figura ‘certa’ – aquela que o experimentador quer que ele pressione –, lá vem uma saborosa recompensa. Se o rato pressiona a figura ‘errada’, a indesejada, recebe um choque elétrico”.
A terceira é a da escola – ou qualquer outro espaço educacional – como um hospital (ou até mesmo um hospício) onde as pessoas têm deficiências a serem tratadas.
“Mais recentemente, no entanto, os educadores encontraram outra explicação para a não-ocorrência de aprendizagem: “deficiências de aprendizagem”. Essa explicação se tornou popular porque oferecia um argumento a todos os envolvidos nesse assunto. Pais de classe média necessitados de se livrar da culpa pelo fracasso dos filhos puderam parar de perguntar ‘O que fizemos de errado?’. Os especialistas lhes diziam: ‘Vocês não fizeram nada de errado; o problema é só o fato de que seu filho tem uns parafusos soltos na cabeça’”.
Não podemos tolerar que nenhum espaço de educação seja encarado, implícita ou explicitamente, como uma fábrica, um laboratório ou um hospital.
E, além dessas três metáforas que John Holt aponta, eu adicionaria ainda uma quarta: os centros educacionais como igrejas e o processo de aprendizado como doutrinação.
Como a escritora Tara Westover uma vez disse:
“A educação deve sempre ser uma expansão da mente, um aprofundamento de empatia, um alargamento de perspectivas. Nunca deve endurecer seus preconceitos. Se as pessoas ficarem mais educadas, elas devem se tornar menos certas, não mais”.
Mas e aí, qual imagem poderia emprestar seu sentido para a educação que queremos?
Uma agrofloresta, talvez.
E você, qual metáfora utiliza para pensar o aprendizado?
Me conta nos comentários!
Isso lembra muito o clipe do Pink Floyd - Another Brick In the Wall.
Não vejo a agrofloresta como imagem da educação que queremos, para mim, libertadora, ainda que não seja contrário à sua sugestão. Mas é que o que sempre vi, a partir de conhecer sobre, foi a Escola da Ponte como exemplo do que pode funcionar de outra maneira.
https://www.escoladaponte.pt/o-projeto/
"A sua estrutura organizativa, desde o espaço, ao tempo e ao modo de aprender exige uma maior participação dos alunos tendo como intencionalidade a participação efetiva destes em conjunto com os orientadores educativos, no planeamento das atividades, na sua aprendizagem e na avaliação.
Não existem salas de aula, no sentido tradicional, mas sim espaços de trabalho, onde são disponibilizados diversos recursos, como: livros, dicionários, gramáticas, internet, vídeos… ou seja, várias fontes de conhecimento.
Este projeto, assente em valores como a Solidariedade e a Democraticidade, orienta-se por vários princípios que levaram à criação de uma grande diversidade de dispositivos pedagógicos que, no seu conjunto, comportam uma dinâmica de trabalho e promovem uma autonomia responsável e solidária, exercitando permanentemente o uso da palavra como instrumento autónomo da cidadania.
Os Pais/Encarregados de Educação, à semelhança dos seus filhos e orientadores educativos, estão também fortemente implicados no processo de aprendizagem dos alunos e na direção da Escola."