Eu adoro quando as pessoas começam a responder meus textos.
Quando, de alguma forma, minha escrita consegue plugar com os sensores de alma de quem está do outro lado, com uma força tamanha que impõe a réplica.
Isso vem acontecendo com mais frequência, e hoje eu quero compartilhar aqui um e-mail (mais uma carta, mesmo) que recebi da Vanessa Tenório, amiga querida e companheira de aventuras na educação.
No mesmo dia em que publiquei o “Quem sou eu?” às 10 da manhã de um 24 de abril, a Vanessa também escreveu uma versão (linda!) da sua própria história.
Com a autorização dela e com leves edições minhas, quero dividir com você o texto que ela me enviou – e que me deixou em choque quando li.
Mulher em alvoroço
Sou uma mulher que sente fundo, que pensa com o corpo e ama com a alma.
Sou essa que se parte em mil pedaços para depois recolher tudo devagar, em silêncio, com cuidado.
Sou um vulcão sereno. Uma flor selvagem. Uma bruxa de pés descalços.
Sou aquela que vai do abismo à dança, do choro ao riso, do sagrado ao carnal em segundos.
Sou tudo aquilo que em mim transborda, que me atravessa, que me reinventa.
Sou uma mulher em travessia – mas não qualquer travessia.
Sou mar, mapa e tempestade.
Sou uma alma em expansão, que se recusa a caber nos moldes que tentaram me encaixar desde menina.
Sou a que sente demais, pensa demais, ama demais. A que se permite mergulhar nas profundezas do outro e nas suas, mesmo sabendo que pode doer.
Sou aquela que se entrega ao amor, mas que não aceita migalhas. A que tem aprendido a se escolher.
Sou uma mulher que já carregou culpa por desejar, por sentir ciúmes, por se contradizer. E que hoje está aprendendo a abraçar suas ambivalências como parte de sua humanidade.
Sou a que não quer rótulos, e sim liberdade.
Mas que também deseja conexão, pertencimento, presença, corpo com corpo, alma com alma.
Sou a que se revolta contra o patriarcado, mas que também sente tesão por homens com energia viril. E entendi: isso não faz de mim menos feminista, faz de mim complexa, inteira, livre.
Sou a que tem um olhar refinado sobre si mesma, uma maturidade que atravessou dores, silêncios e recomeços.
Sou a que fala com a força de uma mulher sábia, mas também com a delicadeza de uma menina que só queria ser escolhida e acolhida com ternura.
Sou a que estende a mão para a própria criança ferida. Que entende que não precisa “estar pronta” para ser amada.
Que chora sem vergonha, que vibra quando é paparicada, que suspira quando sente conexão.
Sou vulnerável, sim – e, por isso, extremamente forte.
Sou a que deseja um parceiro de vida, mas que não tolera se perder no outro.
A que quer amar sem deixar de ser… sua.
Sou a que escreve como quem dança nua sob a chuva, sem medo de se molhar de verdade.
Sou luz, mas também sombra.
Sou desejo, mas também pausa.
Sou potência, mas também descanso.
E não preciso escolher entre tudo isso, porque o Todo já está em mim.
Sou aquela que se orgulha da mulher que está escolhendo ser, dia após dia. Mesmo quando escorrego. Mesmo quando duvido. Mesmo quando sinto medo.
Porque, no fim, sou isto: recomeço e presença.
Não preciso me reduzir para caber em nenhuma lógica: sou poema, não planilha.
E tudo em mim é digno de ser vivido.
Eu pedi à Vanessa para publicar essa pérola porque acredito que mais mulheres deveriam ter a chance de se perceberem dessa forma.
Meu trabalho – tenho entendido cada vez mais – vai além de botar no mundo minhas criações.
É um presente e um privilégio pra mim poder usar esse espaço para enaltecer (que palavra bonita!) vozes outras, vozes diversas, vozes ferozes.
Como a da Vanessa.
Por isso, se você tem algo brotando no seu coração ou fervilhando na sua cabeça, meu convite é: mostra.
Mostra pra alguém, mostra pra mim, mostra pro mundo.
Sem pretensões de curtidas ou compartilhamentos, sabe?
Só pelo prazer da troca, mesmo.
“Vai que algo acontece?”, não. Já aconteceu.
E aí, como foi pra você ler a carta da Vanessa?
E quais cartas estão aí dentro esperando para serem escritas e mostradas?
Me conta nos comentários!
Alex, meu querido, mal consigo expressar a gratidão por ter acolhido minhas palavras com tanta sensibilidade, respeito e generosidade. Ver esse texto publicado hoje, justo após um momento doloroso, foi como um abraço do Universo me lembrando de quem eu sou. Obrigada por ecoar a minha voz num mundo que tantas vezes tenta calá-la. Que essa carta inspire outras pessoas a se reconectarem com a sua verdade, com coragem, poesia e presença. Um abraço carinhoso da amiga em alvoroço, Vanessa Tenório 😘
Lendo hoje, no Dia da Mulher, que texto inspirador, Vanessa! E obrigada por compartilhar, Alex. Muitas vezes me vejo nesses lugares mencionados e, além disso, incluo aqui a maternidade que também traz inúmeros desafios e descobertas para uma mulher.