Muita gente acaba caindo na Maldição da Liberdade.
Mas o que é essa Maldição?
Primeiro, um pouco de contexto…
Nós fomos ensinades a esperar pelo controle – não só na educação, como também na família, na cultura, na religião e na política.
Nos ensinaram a depender de relações autoritárias que ditam o que devemos e o que não devemos fazer.
Que legislam sobre o que é certo e errado deixando pouco espaço para escalas de cinza (quiçá cores).
Que sufocam nossa sede de Vida.
Alguns e algumas de nós conseguem – ainda que a duras penas – construir uma ponte para um outro território: o território da liberdade.
O início da jornada por esse território costuma ser resplandecente. Um deslumbramento.
A gente fica tomado pela incrível sensação de poder ir, vir, dizer, ser.
Só que… existe um problema.
Pode ser que a gente comece a querer tudo – ou melhor, a acreditar que tudo que queremos deve ser realizado (do jeitinho que idealizamos).
Pode ser que a gente se perca nos nossos desejos.
Pode ser que, por conta de tanta repressão, nós não aceitemos mais qualquer restrição, mesmo aquelas que nos contornam nas nossas relações com o mundo.
Querendo fazer tudo, a gente fica paralisado e não consegue construir nada.
Rola uma paralisia decisória. Uma asfixia desejante.
Isso é a Maldição da Liberdade.
Como evitá-la?
Tem uma frase que aprendi com minha amiga Ana Marques que eu acho genial:
“Tal é a maravilha da gravidade que permite o surf”
Para surfar boas ondas, você precisa fazer as pazes com a gravidade.
A gravidade é uma estrutura. Sem ela, as águas do mar se comportariam de uma maneira totalmente diferente – talvez menos fascinantes, talvez menos “surfáveis”.
Para desfrutar, você precisa (se) estruturar.
Você precisa encontrar estruturas de vida – hábitos, rotinas, contextos, relações, comunidades – que sejam “gravidade” para você poder surfar.
É claro que é possível mexer nessas estruturas. Mas, se tentar mexer em muita coisa de uma só vez, a casa cai.
Entende?
“Para quem quer se soltar, invento o cais” (Milton Nascimento)
Você já sofreu a Maldição da Liberdade alguma vez? 🤔
Reconhece o que estou falando?
Quais são seus jeitos de navegar preferidos para se cuidar nesse oceano?
Me conta nos comentários 💡
seus textos sempre pontuais, e chegando na hora certa!
gratidão por trazer suas reflexões e dividir angustias..
e existem momentos que é necessário desconstruir para (re) unir...
Aos vinte e poucos anos participava de alguns grupos onde se falava da possibilidade de não nos rotularmos com nossas referências engessadas de profissão no momento de nos apresentar para o grupo. Aquilo me encantou, ver uma juíza (que descobri depois) se apresentando como alguém que acredita na vida, ou um médico priorizando dizer sobre si a partir da paternidade e interesses.
Acredito que essa reflexão foi ficando cada vez mais comum e ela é realmente muito válida em muitos contextos onde ser o "doutor" direciona a única forma que a pessoa se vê e direciona como as relações se constróem. Acontece que eu me perdi muito na personagem de não ser nada. "O que você faz?", puts, sempre aquela pergunta difícil e com mil parênteses.
No fim, algumas bordas são importantes para transitar no mundo. Hoje já me sinto mais confortável para dizer que sou psicóloga, por exemplo. Sabendo que não sou só isso, mas que é uma palavra que dá algum contorno para algo que sou e também facilita a compreensão para o ouvinte.
Esse seu texto me lembrou dessa história, são muitas nuances entre liberdade e bordas. <3