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ok, este Ă© o meu texto mais importante do ano đą
ano passado, enviei um e-mail com o tĂtulo âmudei de ideiaâ (talvez vocĂȘ se lembre dele) e, agora, decidi tornĂĄ-lo um ritual anual.
afinal, nada mais coerente com a identidade de um aprendiz autodirigido e ao longo da vida do que mudar de ideia com frequĂȘncia.
se vocĂȘ acompanha meu trabalho, eu te peço:
đ leia este e-mail atĂ© o final (tem um anĂșncio que eu realmente achei que nĂŁo ia fazer lĂĄ na Ășltima parte)
separe um tempinho gostoso com vocĂȘ mesmo, pegue uma đȘ cadeira e se achegue.
15 minutos Ă© tudo que Ă© necessĂĄrio â°
preparado para zarpar? đą
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a primeira coisa que tenho pra te contar parte de uma pergunta (retĂłrica):
como nĂŁo mudar de ideia depois de tantas coisas incrĂveis E desafiadoras E acachapantes que vivi no Ășltimo ano? đ€Ż
simplesmente nĂŁo tem como.
mais uma turma do MolÂł (a quarta), um diagnĂłstico de demĂȘncia do meu pai, um tĂ©rmino de uma relação de 5 anos, 4 residĂȘncias de aprendizagem (Araçoiaba/SP, Floripa/SC, Alter do ChĂŁo e BelĂ©m/PA e Olinda e Recife/PE), muitas relaçÔes novas e uma brusca mudança de planos e de cidade depois, cĂĄ estou eu, sentadin no meu novo lugar tirando as certezas de lugar.
mas como Ă© que a gente conta (sobre) o tempo que vivemos?
o parĂĄgrafo acima traz alguns nĂșmeros e alguma vulnerabilidade, mas nĂŁo conta sobre a balada proibida que eu, Amanda e Luis criamos numa ruĂna, somente para depois ficarmos chapados de endorfina olhando as estrelas no cĂ©u â e SIM, nĂłs vimos uma estrela cadente GIGANTE juntos! (episĂłdio conhecido entre nĂłs como âStar Technoâ) âš
nĂŁo conta do convite para um cafĂ© virtual que fiz para a Iza, que nunca aconteceu, mas que foi substituĂdo por um âtopa morar junto por 1 mĂȘs no ParĂĄ?â que, veja sĂł, rolou mais fĂĄcil do que a chamada de Zoom.
nĂŁo conta do xixi que alagou todo o banheiro do aeroporto que meu pai fez por nĂŁo conseguir mais controlar sua bexiga, nem do fato de agora ele chorar quando se despede de mim.
enfim, sĂł aquele parĂĄgrafo nĂŁo conta muitas coisas. a experiĂȘncia da descoberta Ă© mesmo algo pessoal e intransferĂvel đ§đŸ
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sĂ©rio: EU NĂO TINHA IDEIA de que viveria metade disso nos Ășltimos 365 (366?) dias.
a sensação Ă© de que minha vida se tornou um verdadeiro laboratĂłrio de aprendizagem autodirigida em comunidade đ§«
de certo modo, Ă© algo que jĂĄ estava acontecendo.
sĂł que agora esse laboratĂłrio cresceu, agora ele ocupa muitas avenidas da minha existĂȘncia â e na de outras pessoas tambĂ©m.
minha vida Ă© um experimento â e nĂŁo Ă© que eu seja nem um pouco especial por isso, e sim porque aprendizes autodirigidos fazem exatamente isso de suas vidas.
como seria radicalizar a chama da descoberta na sua vida? como seria abrir tempo pra isso?
tempo, aliĂĄs, Ă© um tema sobre o qual PRECISAMOS falar đ°ïž
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đ„ eu tive uma epifania (uma boa palavra!) esses dias que quero dividir com vocĂȘ.
muitos fatores na nossa sociedade hoje nos fazem viver num estado que batizei de PCC â PrisĂŁo da Correria ContĂnua âïž
PCC Ă© a falta crĂŽnica de tempo.
é a situação brutal de ansiedade cronológica que nos acostumamos a habitar.
mas nĂŁo Ă© sĂł isso â vem comigo (respira fundo!) que eu te explico.
para compor essa reflexão, vale resgatar aqui a minha frase preferida do Antoine de Saint-Exupéry:
âo futuro nĂŁo Ă© um lugar para onde estamos indo, e sim um lugar que estamos criandoâ.
đ fica melhor, pois ele ainda diz que:
âo caminho para o futuro nĂŁo Ă© encontrado, e sim construĂdo, e esse ato muda tanto o destino quanto o realizadorâ.
viver na âïž PrisĂŁo da Correria ContĂnua significa, trazendo o autor de O Pequeno PrĂncipe para a conversa, nĂŁo conseguir construir futuros, apenas encontrĂĄ-los.
também significa não contemplar nem compreender o passado, quiçå o presente.
(lembra dos 3 Cs â Contemplar, Compreender e Criar?)
em outras palavras, na PCC vocĂȘ se vĂȘ acorrentado ao que jĂĄ tem, ao que jĂĄ vive, o futuro nada mais Ă© que uma cĂłpia mal-acabada do passado, a roda continua girando sem vocĂȘ botar reparo nem na roda, nem em vocĂȘ, nem em nada ao redor đ
essa prisĂŁo Ă© uma prisĂŁo alienante e, em alguma medida, estamos todos nela.
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đ± as mĂdias sociais produzem deliberadamente PCC â afinal, quanto mais tempo dispendemos nas rolagens infinitas, mais o Zuck lucra.
mas nĂŁo sĂŁo sĂł elas.
a tirania do sistema econĂŽmico (da qual as mĂdias sociais sĂŁo somente uma consequĂȘncia) tambĂ©m nos amarra dolorosamente ao instantaneĂsmo eterno, e isso jĂĄ vem ocorrendo hĂĄ sĂ©culos, nĂŁo Ă© de agora.
ao longo da HistĂłria, as escolhas sobre o que fazer com o nosso tempo foram sendo retiradas de nĂłs.
viver a PrisĂŁo da Correria ContĂnua significa, portanto, viver sem poder decidir de maneira livre e consciente sobre o prĂłprio tempo đ
đž isso começa na infĂąncia, com as crianças vivenciando um tempo cada vez mais ocupado â seja pelos afazeres impostos pelos pais que precisam trabalhar, seja pelo trabalho infantil para ajudar em casa, a depender da classe.
o dever de casa começa cada vez mais cedo e as atividades âĂșteis para o desenvolvimentoâ tambĂ©m.
đđœ mas Ă© na fase adulta que a prisĂŁo da correria realmente se consolida, e eu tenho certeza que vocĂȘ sabe do que estou falando.
(uma definição boa para âadultoâ hoje em dia Ă© âpessoa sem tempoâ. adultos com tempo disponĂvel, alĂ©m de raros, tendem a ser vistos em alguma medida como âmenos adultosâ)
quando crianças, o tempo que geralmente associamos ao futuro é o tempo da escola.
o tempo da escola, porém, é um tempo instrutivista, preto e branco, imposto.
seu objetivo nĂŁo Ă© criar condiçÔes para a descoberta, e sim para o ensino. dessa forma, lĂĄ sĂł Ă© possĂvel encontrar o futuro em vez de construĂ-lo.
crescemos nossos corpos, assumimos responsabilidades e funçÔes, mas nossas noçÔes de educação permanecem instrutivistas â reprodutoras e nĂŁo criadoras â, e por isso mesmo inadequadas para lidar com um mundo em mutação đ
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talvez vocĂȘ conheça o Mito da Caverna, do PlatĂŁo đ€
aquela histĂłria em que um grupo vive aprisionado em uma caverna, acreditando que as sombras projetadas no interior correspondem Ă realidade.
quando um dos prisioneiros consegue finalmente escapar da caverna e acessar o mundo externo, ele primeiro fica com vontade de voltar para a sua âmerda quentinhaâ, mas depois se encanta com as inĂșmeras descobertas daquele novo universo.
quando o fugitivo retorna Ă caverna para contar o que viu, os demais prisioneiros o veem como louco e o matam đĄïž
esse mito permanece muito atual e possibilita mĂșltiplas interpretaçÔes. (tio PlatĂŁo sabia o que estava fazendo...)
uma perspectiva que quero propor Ă© a seguinte:
aprender pela via da descoberta Ă© o mesmo que se arriscar a sair da caverna.
e ainda me arrisco a dizer que a principal coisa que prende quem permanece lĂĄ Ă© a falta de tempo, ou melhor, o sequestro desse tempo em prol da:
produção que não pode parar
das âresponsabilidadesâ do mundo adulto
dos treinamentos e cursos convencionais â reflexos de um futuro muito encontrado e pouco construĂdo
ou seja: a PCC nos impede de (realmente) ver đ
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estamos num đ foguete na velocidade da luz, e sabe o que acontece lĂĄ dentro?
o tempo passa mais devagar, a gente envelhece muito menos (foi Albert Einstein quem provou isso).
que Ăłtimo, nĂŁo?
sĂł que o problema Ă© quando vocĂȘ sai do foguete.
ao retornar a uma velocidade normal, todo o envelhecimento bate na porta â e talvez vocĂȘ atĂ© morra instantaneamente.
(ninguém sabe o que acontece, na verdade, pois ninguém nunca tentou).
muitas pessoas adultas hoje â talvez vocĂȘ se identifique â vivem na velocidade da luz đ«§
e com isso tĂȘm a ilusĂŁo de que conseguem dar conta de tudo, de que o tempo Ă© esticĂĄvel.
equilibram vĂĄrios pratinhos simultaneamente e ficam orgulhosas disso.
e aĂ vem o burnout, a depressĂŁo, a falta de sentido â a saĂda do foguete Ă© traumĂĄtica.
e sim, meus amigos, em algum momento precisaremos sair do foguete.
(talvez seja melhor nunca entrar â mas as pressĂ”es da sociedade nos empurram para ele o tempo todo)
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âNĂłs somos muito bons em fazer coisas velhas e familiares mais rĂĄpido ou em fazer as coisas erradas melhorâ. (Olli-Pekka Heinonen e Hermanni HyytiĂ€lĂ€)
atĂ© aqui acho que jĂĄ deu pra entender que a âïž PrisĂŁo da Correria ContĂnua tem implicaçÔes terrĂveis, e todos nĂłs a vivenciamos em alguma medida.
Ă© algo estrutural, nĂŁo individual.
ou seja â para nĂŁo fazer como dizem os autores de sobrenomes impronunciĂĄveis (finlandeses!) acima, precisamos de estratĂ©gias para alĂ©m do indivĂduo.
veja bem: pedaços de tempo blindados para a instrução nĂłs atĂ© jĂĄ temos đ§±
as crianças ficam neles boa parte do seu dia e os adultos menos (a essa altura muitos não aguentam mais, pois jå associaram educação a algo chato, e com razão).
đȘ mas e as porçÔes de tempo blindadas para o aprendizado pela descoberta? onde estĂŁo?
quem sĂł aprende sendo instruĂdo pode atĂ© ter quebrado as correntes que o imobilizavam, mas ainda nĂŁo saiu da caverna đȘš
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minha epifania, meu âmudei de ideiaâ mais forte nesse Ășltimo ano â sustentado pelos abundantes momentos de Contemplação, CompreensĂŁo e Criação que vivi â, Ă© a necessidade imperiosa de se ABRIR TEMPO PARA VIVENCIAR A APRENDIZAGEM PELA DESCOBERTA âš
afinal, Ă© essa aprendizagem que conseguirĂĄ fazer as pessoas CONSTRUĂREM FUTUROS em vez de somente encontrĂĄ-los.
đŹïž Ă© essa aprendizagem que farĂĄ todas as empresas e organizaçÔes, universidades e escolas avançarem sem precedentes, nĂŁo fazendo as coisas velhas e erradas melhor, mas de fato pensando de um jeito novo.
âĄïžâĄïžâĄïž existe um jeito de blindar o tempo para a descoberta, e ele Ă© composto de uma combinação de novas Arquiteturas de Aprendizagem Autodirigida (AÂł) + insights preciosos de economia comportamental (em especial, nudges).
as AÂł, como jĂĄ explorei aqui, sĂŁo estratĂ©gias concretas para habilitar o aprendizado pela descoberta em indivĂduos, grupos e organizaçÔes.
mas, como qualquer atividade humana, elas se dĂŁo no tempo, e se tĂĄ todo mundo âsem tempo, irmĂŁoâ, elas simplesmente nĂŁo acontecem.
(na verdade, o estado de PCC nĂŁo apenas oblitera o tempo, como tambĂ©m gera uma certa indisposição nas pessoas. elas passam a nĂŁo quererem ativamente descobrir, sĂł passivamente serem ensinadas â e isso se soma Ă s mentalidades jĂĄ escolarizadas)
venho trabalhando nesse novo enquadramento das AÂł hĂĄ vĂĄrios meses, e isso tem tudo a ver com uma â ïž outra coisa importante que quero te contar.
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inicialmente eu nĂŁo iria abrir uma nova turma do MolÂł este ano, mas, como vocĂȘ sabe, mudar de ideia estĂĄ longe de ser um problema pra mim.
repensei isso quando entendi que o MolÂł 2024 poderia ser um programa especial, diferente de tudo que jĂĄ fiz đŻ
â o TEMPO surgiu como uma variĂĄvel essencial.
minhas investigaçÔes mostraram estratégias comprovadamente efetivas para implementar as A³ mesmo dentro de um cenårio de PCC, mesmo diante da falta de tempo mais tenebrosa.
quero criar uma comunidade para que Arquitetos de Aprendizagem Autodirigida se formem nesse novo campo de conhecimento.
đ por isso, o MolÂł 2024 terĂĄ um tema central: o tempo.
vamos descobrir juntos como vencer a correria contĂnua para fazer o que todo mundo jĂĄ sabe que Ă© importante: aprender por toda a vida.
lifelong learning nĂŁo ocorre no vĂĄcuo, ele se dĂĄ no tempo.
e o tempo do aprendizado, no nosso tempo histĂłrico, foi sequestrado.
precisamos fazer o resgate. đ„·
âĄïžâĄïžâĄïž tem coragi de comentar neste post? (e tornar a internet um lugar menos inĂłspito de se viver?)
eu realmente gostaria de ouvir como essas ideias chegam por aĂ.
minha taxa de resposta aos comentårios até hoje: 100%.
â ïž obs. 1: sobre datas...
đĄ de 22 a 26 de abril vai rolar a segunda edição do Mapa AÂł (a primeira teve +2.400 inscritos), um minifestival gratuito onde vocĂȘ vai entender como funcionam as novas Arquiteturas de Aprendizagem Autodirigida na prĂĄtica
(vou abrir inscriçÔes para o Mapa A³ semana que vem)
đą no dia 29 de abril as inscriçÔes para o MolÂł 2024 Edição Especial: Tempo estarĂŁo abertas â đ adicione no Google Agenda para nĂŁo esquecer
obs. 2: o clarĂŁo sobre as escolhas relativas ao tempo que foram retiradas de nĂłs eu tive com o Luis, que aprendeu com o Ciano. obrigado aos dois!
Alexinho, vocĂȘ vem de âcomo nĂŁo mudar de ideia depois de tantas coisas incrĂveis e desafiadoras vividas?â e eu vou de âcomo nĂŁo amar Alex Bretas depois de aprender tanto, admirar e vislumbrar com o que ele se propĂ”e a fazer?â
amei ver nossa fotinho, foi um momento muito especial, alĂ©m de toda a experiĂȘncia maravilhosa que foi viver o Ășltimo Mol!
li algumas vulnerabilidades, vi a palavra epifania, vi também que botou reparo em algumas coisas rs, mencionou o mito da caverna de platão, a merda quentinha,
o mapa AÂł, e tĂŽ muito muito muito feliz que vocĂȘ vai abrir uma nova turma do Mol esse ano, e que vai ser tambĂ©m sobre lifelong learning, aprecio muito esse movimento seu!
quero muuuuito estar presente e jĂĄ ativei a notificação do inĂcio das inscriçÔes!
obrigada por âo futuro nĂŁo Ă© um lugar para onde estamos indo, e sim um lugar que estamos criandoâ, e âo caminho para o futuro nĂŁo Ă© encontrado, e sim construĂdo, e esse ato muda tanto o destino quanto o realizadorâ
faz muito sentido e reverbera aqui đ§Ąâš
Alex, minha relação com o tempo mudou profundamente depois que me tornei mĂŁe, algo que imaginava como seria mas que vivĂȘ-lo me traz diariamente reflexĂ”es pessoais e profissionais. Entendo que a sociedade nos vende a falsa idĂ©ia de que quem tem tempo Ă© desocupado e que quem nĂŁo o tem Ă© bem-sucedido, ao mesmo tempo que quando nos vemos privados do nosso tempo para poder fazer o que gostamos, queremos e precisamos, nos sentimos frustrados. A verdade Ă© que como diria Ana Suy, nĂŁo fomos ensinados a esperar e na pressa por viver tudo vamos nos atropelando e assim tambĂ©m atropelamos quem estĂĄ a nossa volta. Vejo com frequĂȘncia nos atendimentos clĂnicos que faço a grande dificuldade de mĂŁes e pais e nĂŁo saber esperar e confiar no tempo dos seus filhos para seus aprendizados e descobertas, as intervençÔes sĂŁo constantes com a boa intenção de querer ajudar e "ensinar" vĂŁo tirando a oportunidade e o espaço para as descobertas, a expliração e a prĂłpria construção da sua autonomia. Escuto muito que Ă© difĂcil nĂŁo intervir, o que Ă© uma verdade, sĂł que nĂŁo se percebe Ă© que nessa vontade de intervir no tempo do outro estamos tentando sanar a nossa ansiedade, como se isso fosse possĂvel. Tenho buscado trazer como exercĂcio para mim e para quem chega atĂ© mim a prĂĄtica das escolhas conscientes, quanto mais alinhados estivermos com nossas intençÔes mais claras ficam essas escolhas e começar pequeno, nos ajuda a sair desse piloto automĂĄtico da pressa em que tudo Ă© para ontem. Talvez hoje nĂŁo seja fĂĄcil poder fazer essas escolhas de forma mais consciente para muitos, despertar para essa possibilidade jĂĄ pode ser um primeiro passo, um convite, como aqueles que as crianças nos fazem quando nos chamam para brincar, se nos dermos essa oportunidade podemos ter ainda mais trocas, explorar mais espaços a medida que vamos nos transformando. Adorei o texto e fiquei curiosa para saber mais sobre essa experiĂȘncia toda com o tempo.